segunda-feira, 27 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 03

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
3º Encontro: 27/03/2006, 2ª feira (16h10 às 18h06).
O Prof. Paulo Ueti fez as seguintes indicações de textos:
“O Nascimento dos Dogmas Cristãos”: Bernard Meunier
(Edições Loyola).
b) “Teologia da Revelação” – 4 Tomos.
1º Tomo: “ O Deus da Salvação” (Edições Loyola)
c) Carta Encíclica do Papa Bento XVI: “Deus Caritas Est”.
Foi feita referência à oportunidade do lançamento da Encíclica do
Papa Bento XVI, sobre o amor cristão: “Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). A questão do “eros” e do “agape”. O amor “êxtase”.
As descrições de Ozéias e Ezequiel sobre a paixão de Deus pelo
seu povo, com arrojadas imagens eróticas. O Prof. Paulo Ueti falou
da importância do erotismo como fonte do desejo, fazendo a gente
ir para a frente. O cuidado para não perder o desejo.
Foi referido à teologia anterior do batismo, já superada, e que atribuía o pecado original à difundida história do pecado contra a castidade, entre Adão e Eva. Todo mundo nasce na verdade em pecado. A base está na desobediência. Deus cria o mundo. Já o pecado faz parte da natureza humana, do nosso descompasso. Faz parte da vida, da nossa existência. Negar o pecado seria desumanizar-se.
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São Paulo (Romanos 6):
“Que diremos, então? Que devemos permanecer no pecado a fim de que a graça se multiplique? De modo algum! Nós, que morremos para o pecado, como haveríamos de viver ainda nele? Ou não sabeis, que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova. Porque se nos tornamos uma coisa só com ele por morte semelhante à sua, seremos umas coisa só com ele também por ressurreição semelhante à sua, sabendo que nosso velho homem foi crucificado com ele para que fosse destruído esse corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado. Com efeito, quem morreu, ficou livre do pecado. Mas se morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com ele, sabendo que Cristo, uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte não tem mais domínio sobre ele. Porque, morrendo, ele morreu para o pecado uma vez por todas; vivendo, ele vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal, sujeitando-vos às suas paixões; nem entregueis vossos membros, como armas de injustiça, ao pecado; pelo contrário, oferecei-vos a Deus como vivos provindos dos mortos e oferecei vossos membros como armas de justiça a serviço de Deus. E o pecado não vos dominará, porque não estais debaixo da Lei, mas sob a graça. E daí? Pecamos, porque não estamos debaixo da Lei, mas sob a graça? De modo algum! Não sabeis que, oferecendo-vos a alguém como escravos para obedecer, vos tornais escravos daquele a quem obedeceis, seja do pecado que leva à morte, seja da obediência que conduz à justiça? Mas, graças a Deus, vós, outrora escravos do pecado, vos submetestes de coração à forma de doutrina à qual fostes entregues e, assim, livres do pecado, vos tornastes servos da justiça. Emprego uma linguagem humana, em consideração de vossa fragilidade. Como outrora entregastes vossos membros à escravidão da impureza e da desordem para viver desregradamente, assim entregai agora vossos membros a serviço da justiça para a santificação. Quando éreis escravos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. E que fruto colhestes então daquelas coisas de que agora vos envergonhais? Pois seu desfecho é a morte. Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de Deus, tendes vosso fruto para a santificação e, como desfecho, a vida eterna. Porque o salário do pecado e a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.”
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Em vez de nos preocuparmos em falar sobre o pecado ou sobre o
demônio, o melhor é deixá-los de lado e falar sobre a graça de Deus. Não faz sentido perder tempo com as coisas que já passaram e que já não têm mais poder sobre a gente. Precisamos libertar-nos dessas manipulações.
7. O Prof. Paulo Ueti convidou a todos os participantes para a leitura e reflexão, passo a passo, dos capítulos e artigos dos dois Credos – o Credo Apostólico e o Credo Niceno-Constantinapolitano (nº 184 do Catecismo da Igreja Católica)
8. Conforme relembrou, já foi feito anteriormente o comentário sobre o primeiro artigo: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.”
9. Artigo 2º: “E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos.”
10. Foi sublinhada a diferença com o texto do símbolo niceno, em que se explicita: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim.”
11. Nos comentários, foi observado que o Credo faz a identificação de Jesus como o Messias. Cabe a nós ver claramente qual é esse Messias. (v. Isaías) – O Messias de que falamos é o Jesus de Nazaré, que é o Cristo. É aquele que precisa da nossa adesão. Na nossa religião, Jesus vai vocacionar a gente, vai chamar a gente.
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12. Na nossa fé cristã, Deus se identifica tanto e tanto conosco, com a nossa realidade humana, que vira gente e necessita de nós. Veja-se o diálogo de Jesus com a samaritana, cheio de equidade. Jesus inicia a conversa fazendo o pedido: “Tenho sêde”. Ou seja: eu necessito de água.
13. Em hebraico, garganta quer significar alma. Sêde: necessidade vital do ser humano. A água que vai ser dada a Jesus pela samaritana é efêmera. Mas a água anunciada por Jesus é plena, é de vida eterna.
14. Outro evento lembrado foi o de que Jesus não realizou milagre em Nazaré, por falta de adesão do povo. Temos, pois, o Messias dentro da teologia da necessidade.
15. Em grego, a palavra Senhor é kyrios e significava o título do imperador. Após haver ressuscitado, eram feitas referências a Jesus como sendo Senhor. Diferentemente do imperador, o senhorio de Jesus é o serviço e não a dominação. Dominar, obrigar, oprimir, nada disso combina com o senhorio de Jesus.
16. Lucas: “que vocês não sejam como as nações, que dominam os povos, escravizam os pobres e humildes”.
17. Jesus não se parece, em nada, com o imperador do Império.
18. O Prof. Paulo Ueti mencionou a parábola do bom pastor, dizendo que é mania nossa imaginar que o bom pastor corresponde ao padre e que as ovelhas perdidas somos nós. É bom ter em conta que nos aproximamos da família cristã pelo batismo. Na verdade, a nossa Igreja é a pastora do mundo. A Igreja se perdeu. Abandonamos o senhorio do império para assumir o senhorio do serviço de Jesus. Vamos em busca da ovelha para trazê-la de volta.
19. Quem é o Senhor da Vida da gente? Veja-se o caso da violência doméstica. É crime, mas não a tratamos como pecado. Não esquecer que Jesus é o senhorio e que nenhuma violência deve ser permitida.
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20. Foi indicada a leitura do capítulo 8 da carta de São Paulo aos Romanos, de modo a considerar sob qual espírito estou vivendo: pelo espírito de Deus? “Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte.”
21. Jesus, aquele que ressuscitou, Ele é o caminho da minha vida! A disposição de entrega a Deus é muito boa e própria. Mas é preciso nos mobilizarmos.
22. Foi mencionado outro trecho relevante do Credo par avaliar: o problema da divindade e da humanidade de Jesus. Os dois Credos recusam a heresia que dividiu Jesus – pedaço homem e pedaço divino. A mesma postura em relação à heresia de que Jesus era Deus disfarçado, uma aparência de humano.
23. Ocorrreu no século III a difusão da heresia da negação da humanidade de Jesus. A propósito, por exemplo, do episódio dos discípulos de Emaús, fala-se de que Jesus fez que passou e não queria de fato passar, mas estaria apenas testando os discípulos. Jesus na verdade não procurou testar ninguém: quem testa é o demônio. Deus não faz teste com as pessoas.
24. Há, também, o tema da aprendizagem de Jesus: nega-se o desenvolvimento humano de Jesus. Lucas: “Jesus crescia em graça, em estatura e sabedoria, diante de Deus e dos homens”.
25. Se não fosse assim, Deus estaria em contraposição com a humanidade. Seria o mesmo que dizer que como gente não se chega a Deus. Alma separada do corpo.
26. Tecnicamente, deve-se falar em economia da salvação, querendo significar que não se trata de algo isolado. É um processo, representando várias situações. Exemplo: o Antigo Testamento é uma pré-história de Jesus. A sua vinda dá a plenitude e continua. Outra indicação: a anunciação do anjo a Maria. Ela deu o sim, mas poderia ter dado o não. Deus chamou e ela aceitou, embora não tenha sido uma decisão fácil e tranqüila. Maria não era uma figura passiva, tendo participado de um processo de diálogo. Deus não mandou ou determinou: apenas perguntou. 5
No curso da sua vida, Jesus foi crescendo e se desenvolvendo e,
a prestação, passo a passo, foi se reconhecendo filho de Deus.
27. A nossa tradição vai reconhecer na economia da fé a posição especial de Maria. Ela tem o seu lugar na economia da salvação.
28. Dois dogmas dos primeiros períodos do cristianismo:
a) Jesus, gerado não criado, consubstancial ao Pai: ele é da mesma natureza de Deus (está em plena comunhão com Ele). Deus é o salvador, Jesus é o redentor e o Espírito Santo é o santificador. Ou seja: comunhão na Trindade. São distintos, em plena comunhão. O dogma é: Jesus é plenamente da condição divina e é plenamente humano, encarnado;
b) outro dogma (Éfeso): Maria é mãe de Deus e mãe de Jesus. Ao mesmo tempo, ela é mãe de Deus e de Jesus.
29. A idéia de que Jesus é 100% Deus e 100% homem deve ser ruminada na nossa espiritualidade.
30. Batismo: quer dizer mergulho. Jesus fazia parte do grupo de João Batista, que era profeta. Jesus pertence ao grupo profético.
31. Batismo no Espírito Santo: é toda a vida de Jesus, até a morte de cruz. Juntou-se a divindade e a humanidade de Jesus. Marcos 1,8: “Eu vos batizei com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo”. Megulhar na vida, morte e ressurreição de Jesus.
Intervalo: 17h18 às 17h33
32. Foi feita a leitura do Credo niceno, com alguns comentários. Deus quer salvar toda a humanidade e não somente alguns privilegiados. A misericórdia de Deus é para todos, para toda a humanidade. A eleição de cada um é uma missão e não um privilégio. Com a missão, teremos mais serviço, maior compromisso. Na história dos talentos, vê-se que quem multiplicou o que recebeu vai ter mais. Nós assumimos o compromisso e vamos ser mais cobrados por isso: mais serviço, mais compromisso. 6
33. O desejo de Deus é salvar-nos. Toda a Bíblia, a Patrística e a tradição falam de que a salvação é um desejo de Deus.
34. Para nós, um critério básico é fazer a vontade do Pai. Tudo será dado por Deus como verdadeiro presente, de graça. Deus é graça e misericórdia! Aí está o sentido da gratuidade de Deus.
35. Concílio Vaticano II: a liturgia é a celebração do desejo de Deus que quer salvar toda a humanidade (v. Sacrossantum Concílio nº 5, sobre liturgia).
36. O desejo é primeiramente de Deus. Em seguida, o desejo é também meu, nosso. Não existe qualquer condicionamento da parte de Deus: é de graça!
37. O Prof. Paulo Ueti recomendou que se leia a Bíblia no contexto do Novo Testamento. Firmar em nós o entendimento de que não existem condicionamentos na teologia da salvação. Deus é graça pura! É fundamental ler a Bíblia (NT) como se fosse fruta nova; associar a isso a prática de comprar e ter à mão textos sérios de espiritualidade, com base em bibliografia recomendada.
Brasília, 28/3/2006
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segunda-feira, 20 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 02

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
2º Encontro: 20/3/2006, 2ª feira (16h10 às 18h06)
O expositor, Prof. Paulo Ueti, mencionou que utilizaria inicialmente a Bíblia (Deuteronômio 6,4) e o Catecismo da Igreja Católica (pg. 70, nº 228):
Deuteronômio 6,4: “Ouve, ó Israel: Javé nosso Deus é o único Javé”;
Catecismo pg. 70, nº 228: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor...”
2. Foi entoado, suavemente, o canto:
Shmá Israel
Adonai Elohenu
Adonai ehad
Escuta Israel
O Senhor é nosso Deus
Um é o Senhor
3. Em seguida, houve menção ao primeiro artigo do credo apostólico: “Creio em Deus pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.” Vê-se que o texto do credo niceno-constantinapolitano é semelhante, apenas sublinhando “creio em um só Deus” e acrescentando “de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
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4. O credo niceno é uma explicitação melhor do credo apostólico, e os dois credos – o símbolo apostólico e o símbolo niceno – são aceitos por todas as igrejas cristãs. O Credo e o Pai Nosso são comuns às igrejas cristãs.
5. A primeira questão que se coloca para nós é que o Credo é também uma oração. Assumimos uma atitude orante no sentido de escutar o Senhor Nosso Deus. Atendemos à bem-aventurança: “Bendito o que escuta a minha palavra e a põe em prática”.
6. O termo felicidade, em hebraico e em grego, quer dizer marcha, marchar. Pessoas felizes: estão em marcha. Infelizes: pessoas congeladas. Ou seja, felicidade tem a ver com movimento. Por outro lado, as regras monásticas têm a ver com escutar e prática. Prática: seguimento do Credo, profissão de fé. Não se diz: “nós cremos” e sim “eu creio”. É pessoal, individual.
7. A afirmação “creio” é resultado desse espírito: Deus falou e eu me disponho a escutar. Maria também escutou. O resultado de escutar é a gravidez: quem escuta, engravida. Mas não basta engravidar: tem que deixar nascer, parir. Essa associação é fundamental, pois é preciso não cair na armadilha de imaginar que crer é apenas um estado psicológico. O resultado sempre é crer. E crer é fazer: Deus fala, eu escuto, ocorre uma gravidez e uma parição (ato de parir). É um verdadeiro efeito-dominó e tudo requer opção. Eu escuto e opto por parir ou não. O encontro de Deus depende também de mim, através da opção (o amor de Deus permanece, mas eu preciso optar e querer).
8. Vê-se, pois, o efeito-dominó da primeira afirmação de Credo (“Creio”). A morte do Messias estava prevista e Jesus assumiu isso de bom coração, assumiu a cruz. É bom ter em conta que uma coisa é o Jesus de Nazaré; outra coisa é o Jesus da Fé (pobre, humilde, reformador, revolucionário, que morreu na cruz).
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9. Observe-se que Jesus foi, a prestação, passo a passo, assumindo a vida, aprendendo. Como ser humano e bom judeu foi aprendendo a rever os seus conceitos sobre a religião. Ele teve que se dar conta de que o povo não era normalmente feliz.
10. Deus é tão Deus que se fez ser humano, vivendo o mistério da encarnação. Aceitou o limite humano sem perder a essência divina. Deus humilhou-se e virou gente. Ser gente não é ruim.
11. O credo apostólico foi difícil de sair como saiu. O problema sério foi justamente a humanidade de Jesus, envolvendo os primeiros séculos, o que foi objeto do Concílio de Trento e do Concílio Vaticano II. Anteriormente, foi considerado heresia o fato de não reconhecer a humanidade de Cristo. Está na Bíblia que Jesus não queria morrer. Precisamos crer nesse Deus humano e divino e não só naquele Deus distante, que está no céu.
12. Deus está no meio de nós. A nossa saudação habitual na missa é, mais do que isso, uma saudação litúrgica. Ele está realmente no meio de nós.
13. O que foi dito até aqui é o aspecto fundamental da primeira vertente (“Eu creio”). O Prof. Paulo Ueti referiu-se ao capítulo 10 de Lucas e, especificamente, à acolhida de Maria e Marta a Jesus e da saudação a Maria, “que escolheu a melhor parte”, escutando a palavra de Jesus. Foi também mencionado o capítulo 11 de Lucas, com a oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus. O centro do Pai-Nosso é “venha o teu Reino”, “seja feita a tua vontade”.
14. A mesma prática que Deus tem com você, cabe a você ter com o próximo, com a comunidade: bem-aventurança da misericórdia. Deus perdoou você primeiro.
15. O credo apostólico vem de que Deus acreditou em mim primeiro. Quanto mais eu creio, a minha crença junta-se com o credo do outro e daí nasce uma crença, o credo da Igreja.
Tem-se aí a crença pessoal e a crença eclesial (comunitária). Isso tudo se dá para que a comunidade seja melhor.
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16. O verbete do Credo diz: “Creio em Deus Pai”. Ou seja: eu não creio em qualquer Deus, mas naquele que é Pai. Em hebraico, pai quer dizer casa, morada. Abbá: paizinho. Duas vezes casa, morada. Deus (paizinho) não é uma casa qualquer, mas uma morada por excelência. Deus não precisa de exército, de imposto, de um séqüito: Ele é a figura da casa, da morada. O acesso a Ele é livre, público, cotidiano. Não há necessidade de pedir audiência.
17. Na espiritualidade e na fé, é preciso prestar atenção em que Deus eu acredito. O credo niceno diz: “Creio em um só Deus”, que é Pai. Ele é responsável por você, pelo seu provimento.
18. É bom que se tenha consciência da imagem bonita desse pai, desse paizinho: Deus não é homem, do sexo masculino (não confundir a nossa natureza com a natureza de Deus). Ele é mãe, Deus é misericórdia. Tem entranhas de mulher, útero materno. Foram lembrados trechos de Isaías (capítulo 49) e de Oséias:
“Ó céus, dai gritos de alegria, ó terra, regozija-te,
os montes, rompam em alegres cantos,
pois Javé consolou o seu povo,
ele se compadece dos seus aflitos.
Sião dizia: Javé me abandonou;
o Senhor se esqueceu de mim.
Por acaso uma mulher se esquecerá de sua criancinha de peito?
Não se compadecerá ela do filho do seu ventre?
Ainda que as mulheres se esquecessem
eu não me esqueceria de ti.”
“Até a ingratidão inflama o amor de Deus. O amor de nosso Deus.”
19. Deus cuida de nós. Ele escuta, pega no colo, amamenta. Deus que é esse tipo de pai e mãe (misericórdia). Deus não é macho ou fêmea.
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20. Muitas pessoas nas nossas igrejas têm medo de Deus. Precisamos aproximar Deus de nós, insistindo nessas imagens de Deus mais próximo, misericordioso, paizinho. Deus: o pai!
21. Foi lembrado o ano 586, em que o templo foi destruído. Deus vivia aprisionado no templo, que virou instrumento de separação de Deus de nós, numa autêntica segregação.
22. É preciso ver que o Espírito está em todos os lugares. O sacrário, a Igreja, a capela do Santíssimo, são todos locais especiais aos quais nos dedicamos especialmente (e não exclusivamente) a louvar a Deus. São lugares e ritos destinados especialmente a louvar a Deus.
23. Indagado sobre como deveriam se vistos os milagres, o Prof. Paulo Ueti afirmou que milagres são milagres. Teologia romana: experiência da hóstia consagrada (experiência especialíssima). Presença física e real? A eucaristia é presença real do Cristo, mas não presença física. O importante é ter por base que Deus, que se revela pelo Espírito Santo em Jesus, não é localizado mais num único e específico lugar. Com a encarnação e a ressurreição não é possível mais encontrar Deus num único local.
24. Para nós, cristãos, não é necessário ter Deus isolado num determinado lugar. Eu posso encontrar Deus em todos os lugares, especialmente na eucaristia.
25. São Paulo: eu não posso aprisionar Jesus. O jeito como ele está entre nós não é mais o mesmo depois da encarnação e da ressurreição.
Intervalo: 17h15 às 17h30
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26. Outras palavras do início do credo: “todo-poderoso”. Convém ter uma idéia precisa do que significa esse poder de Deus. A Bíblia sempre vai dizer, por exemplo, que os milagres são um sinal do amor de Deus por nós, por toda a humanidade. Os milagres e as atitudes de Jesus acarretaram problemas para ele, inclusive no sentido de que planejaram matá-lo. Isaías: “O Senhor é todo-poderoso em amor”. Ele é um “pastelão derretido” e essa é a contradição que Deus quis revelar para nós. O poder de Deus aparece pelo que me envolvo nesse espírito de amor de Deus: é preciso emergir, experimentar ânimo, desfazer as nuvens que nos impedem de amar.
27. Qual a imagem de Deus que temos em nossa cabeça?
28. Deus é Rei ?! A coroa de Jesus foi de espinhos. Súditos: Jesus não teve súditos ou servos. A sua missão foi a do sacrifício de cruz.
29. Precisamos retomar a leitura dos primeiros padres da Igreja. No século VIII esqueceu-se da Bíblia. É preciso recuperar a leitura da Patrística e da Bíblia.
30. A fé católica está baseada em três pilares:
a. Bíblia;
b. Patrística; tradição;
c. Magistério (da Igreja).
31. A base são os três pilares e não um só. A Patrística corresponde aos quatro primeiros séculos, com toda a contribuição dos padres do deserto e dos primeiros padres (Santo Antão, São Jerônimo, Evagrio Pôntico, São Crisóstomo e tantos outros). Foram lembrados também, entre outras referências do acervo da fé católica: Santa Hildegarda, Santa Catarina de Sena, Santo Inácio de Loyola, São Francisco, Santa Clara.
32. Temos que recompor a expressão “todo-poderoso” para poder entender o sacrifício da cruz. Quando eu entrego, eu recebo de novo; quando eu dou, eu recebo; é preciso desapegar-se. Isso é ser todo-poderoso.
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33. Paulo: Filipenses 2: “Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, a morte sobre uma cruz”. Poder de Deus: é você não achar que pode tudo. Quando se tem vida, quando se é capaz de morrer pelo irmão.
34. Jesus não é mágico de plantão e nem está a meu serviço. Eu é que estou a serviço do Reino de Deus, que Jesus veio revelar.
35. Outros pontos do Credo: “criador do céu e da terra”, ou seja, de todas as coisas. Deus não é engenheiro. Ele é artista: sensível, aberto, apaixonado, amoroso. Ele é criador. Cria-se para as pessoas e o mundo serem melhores. Ele é também excêntrico, isto é, para fora, para os outros. Deus faz não para Ele. Deus faz para o mundo.
36. Muitas vezes, falta para nós os olhos da espiritualidade, olhos de contemplação. O espírito de Deus é vento, é língua de fogo. Quando inspira, tudo morre; quando expira, tudo volta a florir (primavera).
Salmo 104 (103):
... “Escondes tua face e eles se apavoram;
retiras sua respiração e eles expiram,
voltando ao seu pó.
Envias teu sopro e eles são criados,
e assim renovas a face da terra.” ...
37. Deus não é criador só do Céu. Ele é criador de tudo, do céu e da terra, “das coisas visíveis e invisíveis”, como incluído no símbolo niceno. É preciso, pois, ter o olhar da contemplação (voltar para a arte).
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38. A filosofia tem um método, tem uma lógica. Na música, a partitura tem uma teologia.
39. A misericórdia, para onde leva? Para a humilhação, para a humildade. Falta para nós o aprofundamento para entender que Deus não criou só algumas coisas: por exemplo, a natureza boa do ser humano. Deus é de fato o criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. Deus cria tudo! Mesmo que depois a gente estrague o que foi criado, Deus estará ali para ajudar a consertar.
40. Finalizando o encontro, o Prof. Paulo Ueti explicou que o resultado da tentação é cada um fazer uma opção. A fé é o resultado de opções. Em qualquer delas, Deus estará ali para ajudar.
Brasília, 21/3/2006
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sábado, 11 de março de 2006

Retiro Espiritual: “ Vivenciar a Oração Eucarística”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Retiro Espiritual: “ Vivenciar a Oração Eucarística”
Pregador: Padre Antonio Donizete
Data: 11/3/2006 – sábado (8h às 17h35)
Local: Auditório Totus Tuus (Brasília-DF)
1. O evento teve início com a reza conjunta do terço, entre 8h e 8h40. Seguiu-se ligeira introdução com os avisos gerais, transmitidos pela Luzimar, e a apresentação feita pelo pároco da Igreja N. S. Perpétuo Socorro, Pe. Abdon Guimarães, incentivador da Escola da Fé.
2. O pregador do retiro, Pe. Antonio Donizete, redentorista, localizado em Goiânia-GO, iniciou lembrando a todos os participantes tratar-se de tarefa custosa a missão de fazer as pessoas rezarem juntas, observando momentos de concentração e de silêncio. A comunicação da nossa fé tem um grave problema, representado pela nossa falta de capacidade de separar os ruídos do conteúdo da fé. Frequentemente, nos chegam ao coração mais os ruídos do que o essencial – a barulheira é maior que o conteúdo da fé. Cabe, pois, esforço especial no sentido de educar melhor o conteúdo.
3. Leitura indicada: Isaías (50, 4-7):
“ O Senhor deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele que me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque seu que não sairei humilhado.”
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4. Vem a propósito, em tempo da Quaresma, a leitura do livro do Profeta Isaías, proclamada no domingo de Ramos, e nos recordando que todas as manhãs o Senhor no excita os ouvidos: é deixar Deus excitar os nossos ouvidos, a fim de que possamos ouvi-lo e perceber o que Ele tem a nos dizer. Somos uma cultura do barulho e, muitas, vezes, queremos competir e não deixamos Deus nos falar. É só lembrar o Evangelho de último domingo, proclamado por Marcos (9, 2-10), em que é mostrada a transfiguração de Jesus: Pedro, interrompe a conversão de Jesus com Moisés e Elias e propõe fazer três tendas. Pedro não sabia o que dizer e a voz do próprio Deus vem e diz para Pedro escutar: “Este é o meu filho amado. Escutai o que ele diz”.
5. A oração verdadeiramente cristã depende da nossa capacidade de saber ouvir. Presenciamos hoje a predominância da cultura do convencimento, cultura do marketing, com as suas técnicas e instrumentos poderosos de cooptação. Precisamos colocar-nos na atitude de diálogo com Deus na oração. Fazer o esforço e a tentativa de ouvir primeiro o que Deus tem para nos falar, de modo que nos diga o que quer dizer.
6. O Pe. Donizete convidou a assembléia a desenvolver um exercício de mais concentração: colocar-se cada um em posição confortável de repouso para orar, olhando fixamente para a luz da vela acesa no palco; fechar em seguida os olhos e sentir o corpo, desde o dedo do pé até o mais alto da cabeça.
7. Repetindo Isaías: O Senhor me excita os ouvidos e treina a minha língua. É preciso sermos inteiros. Vivemos num mundo profundamente fragmentado. Padecemos da necessidade de uma unidade interior e de fortalecimento da unidade da Igreja.
8. Foi destacado que a Oração Eucarística tem grandes momentos a serem vivenciados por todos nós, por toda a assembléia que participa da missa. Na prática, por falta de conscientização, são momentos mais de fracasso do que de exaltação, de verdadeira apoteose! O que fazer com essa oração singular, grande desconhecida da maioria das pessoas?
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9. Observa-se, frequentemente, uma falta de sensibilidade para a importância e beleza da Oração Eucarística com um todo, muitas vezes tida como longa e cansativa. Trata-se, na verdade, de uma fala inteira da Igreja, do seu coração, dirigindo-se a Deus em nome de toda a assembléia.
10. Na missa, até chegarmos à Oração Eucarística, Deus já falou por diversas vezes a todos nós, através de toda a Liturgia da Palavra. Na Oração Eucarística é a Igreja que fala à Deus, devolvendo a Ele tudo o que fez no mundo, a criação de tudo e da vida, tudo o que Ele disse ou pediu.
11. Vê-se que é dada pouca atenção à essência e ao conjunto da Oração Eucarística, no curso das celebrações. Foi lembrada a Carta do Papa sobre a eucaristia e , proximamente, a realização do 15º Congresso Eucarístico Nacional.
12. Cabe ver a Oração Eucarística como caminho da nossa espiritualidade. A idéia é, neste encontro, examinar e aprofundar a vivência da Oração Eucarística.
13. Antes disso, algumas idéias gerais para ter em conta. Vimos recentemente, na missas de domingo, o retiro de Jesus no deserto, segundo relato de Marcos, e anteriormente o batismo de Jesus, por João Batista; que era um homem do deserto e propagador da teologia popular. No batismo de Jesus, o Céu se abre e Deus fala:
“Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem-querer.”
14. Após isso, o Espírito empurra Jesus para o deserto, com as três realidades: os demônios, as feras, os anjos. Jesus fica sabendo que o primo dele, João Batista, estava preso. É anunciado que o Reino de Deus está próximo. Restam: promover a conversão e acreditar.
15. O objetivo de hoje é examinar o capítulo 9 do Evangelho de Marcos.
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16. As multidões acorriam em busca de milagres e procurando fazer de Jesus o Rei todo-poderoso. Os capítulos 15 e 16 de Marcos veiculam grande crítica a duas coisas: aos discípulos, que não acreditam em nada, e todos aqueles que procuram Jesus em busca de milagres. Os discípulos não sabem quem é Jesus e ele proíbe a todos de dizer quem ele é. O leproso curado por Jesus também não sabe quem é Jesus e é igualmente proibido de falar. Só quem sabe quem é realmente Jesus são os demônios. A multidão que procura Jesus também não sabe de nada: todos querem eleger Jesus e fazê-lo Rei, desejosos de ver garantida a cesta básica para comer. Ver de novo a multiplicação dos pães. Presenciar os milagres.
17. O verdadeiro Milagre, para ajudar no problema de combate à fome, é tirar o que está escondido e dividir com os outros. Vimos o milagre da multiplicação dos pães: a criança tinha cinco peixes e cinco pães. O que falta é a partilha de verdade.
18. Ao final, o que se vê no Evangelho de Marcos (capítulo 15, versículos 37 a 39) é a afirmação da fé do centurião romano: “Jesus, então, dando um grande suspiro, expirou. E o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo. O centurião, que se achava bem diferente dele, vendo que havia expirado desse modo, disse: Verdadeiramente este homem era filho de Deus.”
Em síntese: o centurião se converte quando vê Jesus expirar.
19. Neste último domingo, na transfiguração, Jesus proíbe severamente Pedro de dizer o que viu no monte Tabor. De lá, podia-se ver o vale do Jordão, a terra mais fértil do mundo. A região desfruta da melhor atmosfera climática, excelente para produzir de tudo. Jesus havia feito o seu retiro no pior clima, no próprio deserto, e leva os discípulos (Pedro, João e Tiago) para o melhor, o Monte Tabor. Ou seja, para ele, o mais difícil, para nós, o melhor.
20. Vimos, na transfiguração, a fala azucrimadora de Pedro, obrigando Deus a interferir e mandar Pedro calar, a fim de ouvir Jesus. Santa Teresa: “Só Deus basta!”. A oração genuinamente cristã (católica, apostólica, romana) é aquela em que Deus consegue se mim tudo o que Ele quer.
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21. Ao contrário, para nós, o objetivo da reza é sempre conseguir de Deus o máximo que nós queremos.
22. Foi enfatizado que não dá para ficar longe ou livre do sofrimento. O sofrimento está ligado à questão da fidelidade ao Senhor.
23. O pregador, Pe. Donizete, lembrou dois testemunhos de jovens em Aparecida de Goiânia, no contexto da convivência em presídio de 500 presos:
no primeiro deles, eram dadas graças em relação ao pai violento, foi embora e deu sossego;
no segundo, o pai alcoólatra, violento, agressivo, era objeto de constantes orações da mãe, e foi sustentado na família, apesar de todas as suas deformações. (morreu de cirrose)
24. É preciso perseverar na fidelidade e na oração. Fugir da falsa paz. Jesus: a força da paz representada pela capacidade de expirar dizendo ao Pai para perdoar a todos, porque não sabem o que fazem.
25. Oração Eucarística: graça, bela graça. Evangelho: bela notícia, boa notícia. Eucaristia: graça bela. É preciso aprofundar o seu sentido, para receber a tradição da bela graça e se alegar com ela.
26. Estamos próximos da Páscoa: o ponto alto da vigília pascal é estar na comunidade, conviver com ela. “ Ó Deus como estupenda caridade: dar ao filho para a culpa dos servos resgatar. Agradecimento a Deus por Adão ter pecado.” Se não tivesse havido pecado, não experimentaríamos a graça do Redentor na cruz. Até o pecado pode ser instrumento da ação de Deus.
27. A Eucaristia é dar graças, até pela culpa do Adão. É bendição (oposto de maldição). Liturgia eucarística: bela graça, ação de graças. Ação de graças, ou seja, fazeção: é hora de a Igreja fazer graça.
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28. O Prof. Donizete, após alguns cânticos e, utilizando transparências, ampliou as explicações e reflexões, enfatizando a necessidade de fazer revisão sobre o jeito de viver e celebrar a oração eucarística, como oportunidade para a igreja fazer graça.
A oração eucarística é fruto da história de cerca de 4000 anos, desde mais de 2000 anos antes da vinda de Cristo. Nasceu nas orações do Antigo Testamento (Deuteronômio, Josué, Salmos, Magnificat, Cântico de Simeão, de Isaías.)
29. No primeiro milênio da Igreja, superadas as grandes heresias dos séculos III, IV e V, via-se que a oração eucarística era manifestada de forma diferente – ela era concebida com um todo, em sua inteireza.
30. É importante considerar a Oração Eucarística no seu conjunto, como um todo, tal como se vê na reprodução da apostila distribuída (Oração Eucarística IV).
31. Como se vê, ela é uma única oração, sem sua inteireza, compreendendo nove pontos e dirigida pela Igreja ao Pai. Não se trata, pois, de oração dirigida à assembléia, mas ao Pai. É o sacerdote se dirigindo a Deus, em nome de todos nós.
32. O Pe. Donizete mencionou o texto, também distribuído, de autoria da pesquisadora Ione Buyst, intitulado LITURGIA EUCARÍSTICA (ação ritual, teologia, espiritualidade, prática pastoral, Eucaristia, sacramento da unidade). Em seguida, foram feitas leituras do mencionado texto, item a item, a partir das raízes e mais especificamente em relação aos “elementos, estrutura e dinâmica das orações eucarísticas atuais do rito católico romano”, sendo:
Diálogo introdutório entre presidente e assembléia para suscitar a participação e pedir licença para falar em nome do todos e todas;
Prefácio: proclamação (agradecida, com o coração em Deus) da maravilhas realizadas por Deus ao longo da história da salvação, explicando os mistérios celebrados em cada tempo do ano litúrgico;
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Santo, Santo, Santo: une as duas assembléias, a celeste e a terrestre;
Pós-santo: retomando a proclamação;
Primeira epiclese (sobre o pão e o vinho): influência dos orientais no concílio Vaticano II: explicitação da atuação do Espírito Santo na liturgia;
Narrativa da última ceia (instituição): Esta narrativa está ausente de vários textos antigos. É uma espécie de “enxerto” (embolismo), recorrendo à autoridade das sagradas escrituras, reforçando a dupla epiclese, o duplo pedido para que o Pai envie o Espírito Santo para transformar os dons do pão e do vinho, assim como a comunidade, em Corpo de Cristo;
Aclamação memorial: “Eis o mistério da fé! Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus.”
Memorial + oferta
Segunda epiclese (sobre os comungantes): nas liturgias orientais há, neste momento (após a narrativa da instituição e a anomnese), uma única epiclese com os dois pedidos entrecruzados em quiasmo literário e teológico. Assim, aparece de forma clara a “interação dinâmica entre os dois corpos de Cristo”, o corpo sacramental e o corpo eclesial. Pedimos a transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo, para que, comendo e bebendo deste pão e deste vinho, sejamos nós como a Igreja, transformados (“transubstanciados”) em Corpo de Cristo. É por isso que a eucaristia é chamada de “sacramento da unidade.” Em última análise, o que faz a Igreja ser é a celebração da eucaristia: “nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima eucaristia, a partir da qual, portanto, deve começar toda a formação do espírito comunitário.
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Daí a necessidade urgentíssima de se solucionar a falta
da celebração eucarística na grande maioria das assembléias
dominicais no Brasil. Não basta a distribuição de hóstias
consagradas e muito menos a adoração e outras devoções
ao Santíssimo Sacramento;
Intercessões: ampliam o pedido da segunda epiclese (epiclese dos comungantes): “que sejam um só corpo”;
Doxologia: síntese de toda a oração eucarística. Gesto de levantar o pão e o vinho: brinde ao Pai (“A ele toda a honra e toda glória”). Amém final: o amém é mais importante que a própria oração. Santo Agostinho: amém é nossa assinatura; sem ela, o “documento” não tem valor.
33. Foi dito, em resumo, que a oração eucarística é a oração do povo, dita pelo sacerdote. É momento de completa atenção, é hora de restabelecer aliança com Deus! Ela é a mãe, o coração da celebração eucarística.
34. Houve indicação de textos relacionados com o esforço das alianças com Deus: Livro de Josué (24, 2-14), Deuteronômio (26, 5-10), Livro de Neemias (9, 6-37) e Salmo 44.
35. Oração Eucarística é fazer graça para Deus: renovar a aliança com Ele. A Ceia pascal judaica é lembrança de tudo isso: tomar o alimento de Deus, lembrando os feitos de Deus e pedindo para continuarmos na aliança.
Intervalo: 10h30 às 10h55
36. É preciso ter em conta que os conceitos são limitados. Por isso, usamos os símbolos. Na celebração eucarística, o primeiro elemento decisivo é a assembléia, a comunidade comungante, participante e batizada. Ela é o Corpo de Cristo.
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37. Jesus está presente realmente na eucaristia. Jesus é a Palavra (leituras): palavra do Senhor; evangelho: palavra da salvação). A palavra acabou de acontecer, ela aconteceu no evangelho. Vem, em seguida, a homilia, com reflexão disso. Logo depois, temos a eucaristia, como restauração da aliança. A oração eucarística deve ser recuperada por nós como o diálogo de amor. “Deus perdoe-lhe a falta e restabeleça a relação.” João Paulo II: o povo deve entender o diálogo da aliança, resgate de uma relação com Deus. É a ação de colocar as pessoas na relação com o sagrado: tocar o sagrado e se deixar tocar pelo sagrado.
38. Sacramento: é Deus que entra na gente. Precisamos curtir a presença de Cristo na Palavra e na Eucaristia: “Anunciamos, Senhor, a Vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus.”
39. Prosseguindo na leitura do texto da pesquisadora Ione Buyst, o Pe. Donizete destacou algumas observações, a saber:
Prefácio: é a proclamação agradecida, feita com o coração, pelas maravilhas realizadas por Deus;
Santo, Santo, Santo: as duas assembléias se misturam, a celeste e a terrestre.
40. O Pe. Donizete retomou o tema da nossa fragmentação, insistindo em que somos pessoas fragmentadas, membros de uma assembléia também fragmentada. Alertou para a necessidade de curar a nossa dispersão. Com todos os participantes reunidos próximos ao altar na igreja, houve concentração para recolhimento de todos até o horário do almoço, às 12h30.
Intervalo para almoço: 12h30 às 14h10
41. Retomadas as reflexões do retiro, relembrou o Pe. Donizete os elementos da estrutura da oração eucarística, como os seus diferentes ritos. Foi feita recomendação dos seguintes livros do autor italiano Cesare Giraudo:
- “Num só corpo”; - “Redescobrindo a Eucaristia”.
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42. Prosseguindo: é preciso buscar um caminho de unidade, o caminho fundante da teologia: é como o esposo, no curso do seu caminho, querendo pegar de volta a esposa infiel (caminho da páscoa). Foi feita rápida descrição do caminho percorrido desde a cena do paraíso desfeito, com Adão e Eva, os filhos (Caim e Abel), etc. Tudo lembrando a tradição e a herança da estrutura da páscoa judaica, com a experiência dentro de casa. A celebração nossa na eucaristia é fruto da relação familiar, da experiência familiar.
43. A vivência da economia salvítica do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Foi referido que para os pentecostais a Bíblia é um livro revelado. Para os católicos a Bíblia é um livro inspirado e revelado por Jesus. Muitas das passagens ali descritas ficaram superadas com a vinda de Jesus Cristo. Jesus é a Palavra Viva!
44. Segundo Giraudo, no começo do Cristianismo a fé era aprendida na experiência de cada um. No primeiro século, a fé era buscada nas celebrações dos sacramentos (batismo, crisma, etc.). Mais adiante, a fé era aprendida e buscada na sala de aula (catequese), de forma racional.
45. A fé é experimentada no dia-a-dia, na convivência familiar. É preciso recuperar essa visão. A nossa eucaristia deveria possibilitar a convivência numa realidade de envolvimento duplo. É necessário voltar a cultivar as raízes.
46. Após alguns cânticos, foi recordado pelo Pe. Donizete que, no começo do dia, foi colocada para todos a possibilidade de busca de uma inteireza maior do nosso ser. Somos chamados a fazer a liturgia de ação de graças. Graça bela. Não dá para fazer graça bela se estamos fragmentados. O objetivo é, pois, a busca da unidade perdida. Para tanto, temos como base as cartas do Papa, instrumento valioso no sentido de recuperar a oração eucarística com um todo: ter em conta o pão e o vinho consubstanciados sem esquecer de toda a oração eucarística que o sacerdote leva ao Pai, em nome da assembléia. É, na verdade, um diálogo do Padre e da assembléia com Deus. A assembléia aceita o acordo novo e confirma com o Amém, formalizando a regra da aliança.
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47. Outro ponto: recuperar o direito de cada um da comunhão do pão e do vinho, disseminando, pelo menos aos domingos, a comunhão na duas espécies. Direito da Igreja: comer e beber!
Ver o novo Missal, com as adaptações introduzidas (pão azimo e vinho).
48. Procurar fugir da esperteza habitual do brasileiro, que procura pegar apenas o que interessa da fé. Ao contrário, tomar a fé por completo.
49. Corpo social: corpo eclesial e corpo sacramental. A função completa da eucaristia:
corpo sacramental – corpo eclesial – corpo social.
O pão transubstancial transubstancia a assembléia que transubstancia a sociedade. Nós somos templo do Espírito!
50. Indagado, o Pe. Donizete teceu comentários sobre a questão: “Como superar a idéia de que Deus é rancoroso e castiga?” Trata-se de tradição errada. A teologia do castigo foi eliminada pelo sacrifício de Jesus na cruz. A idéia do castigo está muito ligada ao Antigo Testamento. A partir da vinda de Jesus, com o Novo Testamento, a visão real é de que as coisas acontecem porque acontecem. Como eu reajo diante das atribulações? A oração tem poder, mas não nos tira da realidade do mundo.
51. As religiões muitas vezes vendem ilusões. O melhor da misericórdia de Deus não é o milagre, mas a fidelidade da graça.
Quem tem fé aproveita para lavar as vestes sujas de sangue das atribulações.
52. Dentro da oração eucarística, precisaremos grudar em Jesus na Palavra, na hóstia, em tudo. É preciso consubstanciar você, sua casa, suas mágoas, suas atribulações, fugindo das ilusões.
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53. É preciso transubstanciar o mundo: Deus na Palavra, Deus no pão e no vinho, nas pessoas, nas famílias, na comunidade.
São Paulo: não desperdice a graça de Deus que existe em nós.
54. Adotar o cuidado para não ficar murmurando ou blasfemando contra Deus.
55. A Igreja deve ser o local da experiência sacramental da relação íntima e amorosa com Deus.
Intervalo: 15h30 às 15h55
56. No retorno, foram dados breves avisos pela Luzimar, que antecipou a previsão de novo encontro com o Pe. Antonio Donizete nos dias 21, 22 e 23 de agosto, durante jornada bíblica (Apocalipse).
57. O Pe. Donizete retomou a palavra e condensou uma visão geral sobre a Oração Eucarística IV, em sua estrutura e dinâmica.
Oração Eucarística: o código da aliança. Destacou: além da transubstanciação do pão e do vinho, tem-se a transubstanciação eclesial e social.
58. Foi, por fim, relembrado a todos o começo da conversa de hoje com base do profeta Isaías:
“Todas as manhãs o Senhor excita o ouvido e adestra a minha língua.”
59. Encerrando a jornada do retiro, o Pe. Donizete convidou a todos os participantes para se deslocarem até a Capela São José. Lá, entre 16h30 e 17h35, e na presença do Santíssimo, desenvolveu oportunas e profundas reflexões sobretudo sobre a administração da nossa vida e do nosso cotidiano, à luz da espiritualidade e da força da graça misericordiosa de Deus.
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